Ao meu tio Adriano, de todas as vezes



Se fosses velho eu não teria aprendido que as manhãs não servem para adormecer. Nem que as armas servem para brincar porque descarregadas de balas imortais. 

Se fosses velho não terias falado comigo como se não tivéssemos a idade das crianças. Não terias o quarto desarrumado só para que as lembranças não te assustassem.

Se fosses velho, o teu nome não seria Adriano. Nem a tua boina caberia delicada no teu cabelo. Ou a camisa apertada até ao último botão.

Se fosses velho, o teu cinto não seria grande demais para a tua cintura. E a barba não era branca e mal semeada.

Se fosses velho eu seria novo demais para entender que não somos imortais de carne, mas que nos estendemos sempre pelas palavras, sempre que um livro, sempre que um conto, sempre que um poema nos conserva.

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