Paris, Lisboa



Partiste para uma viagem e ainda nunca regressaste. Poderia até referir que nunca partiste, afinal, já estavas por lá quando o meu clamor disse que te queria por perto.

Paris.

Estiveste pelos campos Elísios, debaixo do Arco do Triunfo, no alto mais alto da Torre Eiffel, nessa Paris que conheci no tempo da rebeldia e das poças que subiam pela ganga que me vestia. Foi há algum tempo. Mas a cidade sempre foi uma memória de longe que consigo viver. Ainda mais agora, que os teus pés calçaram a cidade. E eu acredito que deixaste um carreiro de coroas douradas nos passeios que pisaste.

E eu nas ruas de Lisboa, a tentar retirar das esquinas uma imagem que se assemelhe a ti, que seja a tua simetria. Difícil. Nessas curvas para lugar nenhum não existem ombros como os teus. Caminho sozinho por enquanto, mesmo quando viro a rua, mesmo quando encontro uma conversa. Não és tu. Não me encontro.

Paris.

Agora que chove desde o céu, e a cinza vem de um cinzeiro e do que me rodeia, penso que cor teriam os teus olhos agora. Desde que me contaste que eles eram como camaleões, alternando a sua essência conforme a luz, conforme o brilhante que os alimentava. Verdes. Azuis. Acinzentado. Não imagino mesmo, compreendo a beleza no entanto.

Paris.

Tens pestanas como penteados. Arranjadas, pestanas que deslizam como parelhas seguras que guardam os teus olhos. Fico a imaginar-te somente, a pestanejar, e eu a focar-te, a segurar-te os ombros e no desassossego das minhas mãos a querer conduzir-te até aos confins de um jardim inocente.

Paris.

Desenho. Tens um desenho a perder cor no teu pulso. Pergunto-me que memória terá o teu pulso. Se alguém já te beijou o pulso. Pouco importa. Alguém já rabiscou a tua pele numa zona que me enternece. Restam-me os teus ombros ou a tua barriga, onde prometi escrever um poema.

Paris.

Não devias sorrir assim para mim. Não é justo que me deixes ficar com palavras por dizer, palavras silenciosas que são impedidas pela distância do mundo.

Lisboa.

Já estás perto de mim. Somos uma relva molhada e comichões que se apoderam dos nossos abraços. Estamos em Belém. Sou um algodão doce que se desfaz nos teus lábios. Juntos, somos dois braços curtos que se seguram como marionetas que se amam. Separados já nada somos.

Eu digo: - Gosto de ti.
Tu dizes: - Gosto de ti.
Eu digo: - É sempre tudo sobre ti. Desde hoje que é sempre tudo sobre ti.

Beijo-te. Em Belém beijo-te entre a comichão de uma relva que me faz saborear-te mais do que a finitude da carne.

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