Eugénio de Andrade






o teu livro acorda no chão. diz devagar que se chama amantes sem dinheiro. como se a tua poesia tivesse alguma pobreza. está branco e tem letras para cegos. faz falta, porém, a tua voz para os que sabiam a tua voz. 

nunca ousei levantar o teu livro do chão. não me chego perto para que não se apague já. nem o folheio com receio que seja verdade que morreste. e as palavras interditas garantem que a tua imortalidade é permanente. 

e eu acredito que não morreste. nunca gastaste as palavras.

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