Do aniversário de Henry Miller
se os meus livros tivessem vida própria, seriam os teus os primeiros a chegar à porta da rua. a deixarem as letras do teu nome como rasto para todos os outros que os seguiriam.
H-E-N-R-Y
M-I-L-L-E-R
o rasto teria o cheiro de auréolas, o sabor de vulvas, o volume das montanhas mágicas de nomes outros. as letras a caírem devagar sobre o chão. a envergonharem a literatura de casa de banho que alimenta familias inteiras. a chamar almanaques aos livros de cabeceiras inúteis.
Henry Miller.
e já na porta de saída, enquanto os outros recolhiam as letras pelo caminho, os livros de Henry Miller a sobejarem a sorte de se poderem tocar sem sexualidade nenhuma. excitados por partes sem intimidade.
Henry Miller.
as luzes da rua acesas.
(porque os livros ganham vida durante a noite. quando os leitores dormem, os livros acordam.)
os livros a serem prostitutas e proxenetas, convencidos de que na literatura nunca haverá espaço para putas e chulos.
(a literatura de casa de banho tem um gosto único por palavras grossas)
as luzes da rua acesas. e os livros de Henry Miller a serem donos da noite. com vida própria. a escreverem-se novamente enquanto procuram pelo autor no seu dia de aniversário. acreditados que os escritores são imortais.
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