De uma despedida que não se fez
No princípio da literatura, não fui apreciador da tua escrita. Conheci-te contador de histórias de amor. Amores de prolongamento, escritos na longevidade oposta da juventude e da velhice.
(Desculpa, era o começo da literatura e eu não sabia a importância das palavras)
Depois, no festejo da nossa revolução dos cravos, li algures de que levaste também essa história a outros lugares. Dizias que tinha sido a revolução mais bonita de todas, que as flores ao invés de armas. E ninguém acreditou em ti. Exclamaram que o teu radicalismo castrista te traia sempre. Que te confundias sempre que pousavas a caneta e erguias a foice e o martelo.
(Desculpa Gabriel. As minhas mais sinceras desculpas por ter sido tão injusto no princípio da literatura.)
O que gostava mesmo, politiquices à parte, era de que trouxesses de volta o nosso José. Ele que me é querido e me faz tanta falta.
Julgo ser fácil para ti, que enganaras o reino dos céus com as tuas histórias, as tuas malandrices.
(Provavelmente até me vais desculpar, como fizeste com o teu país)
Mas por favor, vai à tua morte e volta com o José. Tragam de volta a literatura que cada vez morre mais por dentro. Envergonhada até, por tantos doidos que escrevem palermices que teimam em vender.
Já agora, se não for pedir muito, traz também o Ernesto, que estamos a precisar de armas carregadas para abater alguns pelintras intelectuais que nos chateiam a vida e o bolso.
Agora que penso melhor, peço-te que não morras, não podes morrer porque eu não me sei despedir dos que partem, dos que não deviam partir.
Até já Gabriel.
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