Tomara que fosses Imortal



             - Vejo-me à espera.
            Ouvir-te dizer o que suspirei ao longo de uma ternura da escrita. Respirar internamente e entender a profundidade das flores no teu rosto.
            Parece que foi outro ano, um outro ano em que preenchias as minhas madrugadas com traços coloridos que te banhavam. Um outrora que ainda encontro nas linhas intermédias do meu pensamento. Tempos áureos em que a palavra se encontrava com um poema.
            E agora estás na espera de qualquer coisa que desconheço. Se ao menos fosse eu a tua espera. Se ao menos, quando uma coisa te surgisse na lembrança, o meu cognome palpitasse incessantemente e nos visses a surgir como uma melancolia extrema.
           
            Acreditarias que ainda acaricio as flores do meu jardim, na certeza que tu já lá estiveste antes de mim?
             
            As flores nascem quando me recordo da tua aparição. Também elas querem ver o teu vestido e o passeio que fomentas, nessa calma que os teus pés afrontam sempre que caminhas ao longo de um arco-íris a formar-se.
            Nessas alturas, eu embrenho-me no que julgo seres tu, perfumada por uma beleza que enganou os infernos. Qual perfeição de telas adormecidas, tu sempre foste a imortalidade das mãos, um cachecol que queria ser vermelho, uma penumbra com o teu rosto, uma sombra que adormece.

            Lembras-te quando sofri em Itália, mesmo nunca lá tendo estado? Sim, de uma vez como outras em que escrevi que tudo era cinzento e só tu é que tinhas cor. Essa vez como em outras em que a força do amor se apoderou de mim e eu só conseguia escrever quando os teus olhos piscavam num canto de mim.
            Sei bem que não foste a Itália comigo. Mas eu estive em Itália contigo. E tudo era bonito. O que eu sentia por ti era bonito.

            Depois dei-te o presente mais ousado de todos. Ludibriei o teu nome e na clandestinidade perdi-me nas palavras mais belas do mundo. Quando escrevi o teu nome. Quando ao longe de mim, girava um sonho. Ainda tenho esse sonho a viver dentro de mim. Ainda te tenho a viver dentro de mim.

            Tu sempre soubeste estar. Nunca fulminaste o meu amor. Nunca embaraçaste o meu amor. Na tua leveza embalaste e fizeste-me escrever. Para ti sempre reservei as prosas mais bonitas. Não era difícil. Era a minha forma de conquistar o teu amor por mim.
            Mas falhei.
            Fui quase sempre só palavras. As minhas acções sempre foram comedidas, por ter medo de ti, por ter medo de nunca te ver. Por te querer tanto e não poder.      
            E agora estás aí de novo. A pairar no mundo. A crescer como um temporal que nunca me largou.
            Eu quero sentir de novo tudo o que me preenchia. Sabendo que o teu único defeito é não seres imortal. Guardar-te num espaço em que sejas todas as cores da minha cegueira. Encontrar-te e manter-te a sobrevoar todas as minhas ilusões. Valorizar-te à beira mar, nesse lugar onde guardo todo o amor que me deixes oferecer.           
            Até não acontecer, permito-me gostar de ti, com a mesma bravura, no recôndito de um canto que será sempre teu.

  

Comentários

  1. Linda e muito bem escrita a tua prosa.

    Parabéns Bernardo, segue o teu sonho...

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