A sombra

        É na sombra que se procuram os momentos demorados. Mas a tua sombra esconde o rosto que desconheço, que procuro. O teu rosto perdido num horizonte que penetra num azul destemido. Pequenas nuvens duvidosas que inalam uma beleza que desconheço, que procuro. E o teu pescoço descoberto a fazer sombra no mar, a pedir uma clemência que está muito além dos términos da compreensão.

            Sinto uma presença ténue numa praia que talvez te estendas. Uma toalha de cores e arco-íris, talvez. O teu corpo mergulhado na toalha, pequenas lágrimas do mar a deslizar sobre a tua pele. As tuas pernas nos olhos do sol. Os céus a saberem que a beleza se faz desde a sombra que se faz no mar.

            Não entendo se tens os olhos a fugir para perto das nuvens que se formam. Quero perceber que o teu sorriso se encontra escondido e que eu o procurarei incessantemente, que encontro.

            Mas essa praia é um deserto que não percorri. Alongo-me com uma imaginação que ludibria, tu és bela, és um pedaço bonito da natureza e pertences à poesia.

            Embrenho-me assim nas palavras, na busca da sombra que deixas no mar, no deslize sempre suave das nuvens que se perdem em ti, na fabulosa existência que me permito, sempre que te consigo imaginar.

            Perdi-me nas areias de dunas móveis. Perdi-me quando tudo o que queria era encontrar-te.