Madalena
dizias tio Menado, a fazer possível um abecedário novo, com letras que estragam as palavras bonitas. dizias para ser feliz nas férias, mas só até à hora de dormir.
na ternura dos que nasceram recentemente, dizias para irmos os dois molhar
os pés à beira do mar, mas
- tenho medo das ondas tio Menado.
e o teu pai, o meu irmão, a correr pela areia para empurrar as ondas para trás. o teu herói de calções a empurrar o mar e a construir amor com areia molhada.
depois vinhas para a toalha, a querer ter fome de queijo e pão. abraçavas a tua mãe e juntas, onde começam os sonhos, a adormecerem debaixo do chapéu, a esperarem de olhos fechados pelo final de tarde.
eu e o teu herói ficávamos a conversar a tarde fora. a ver as miúdas giras e a fumar cigarros despreocupados. até tu acordares o mar recuava muitos palmos. os castelos de ameias desfeitas, ainda estavam estendidos à beira do mar. até tu acordares o dia não era feliz.
quando abrias os olhos devagar, a espreguiçar o final de tarde, a espreguiçar as brincadeiras todas, a espreguiçar os sonhos que te ensinaram outras coisas, olhavas logo para o teu herói de calções. a olhares fixamente e a certeza absoluta que as ondas não o tinham levado. a dizeres baixinho porque o vento por vezes leva as palavras
- pai Mino. pai Mino.
e os dois abraçavam-se. e os três abraçavam-se. o teu pai. a tua mãe. tu. e voltavam a adormecer para onde começam os sonhos.
eu continuava entre cigarros, a ver as miúdas giras, a pensar que devia ser feliz nas férias, mas só até ser hora de dormir.
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