O inverno



quando o tempo era pequeno, antigamente, nos relógios de plástico comprados por dinheiros, as missas encheram-se de gente ainda mais pequena para te elevarem.


entre a multidão que soprava perto das velas, havia uma pessoa que estava de costas, a silenciar para a parede que tardava em cair. havia uma alma de corpo presente, pronta para sair do silencio miraculoso da vida. havia uma única pessoa que sabia que as missas eram sempre curtas para te poderem elevar.


e bastava calarem o eco do tecto.


se tivessem calado a sala, as velas seriam de novo fogo nas mãos, cera na pausa do chão.


mas a pessoa não ficou para a cerimónia. sacudiu do ar os cânticos proféticos do amor. torceu-se entre os ombros alheios. cruzou os braços perto da portada grande demais para pessoas pequenas. cruzou os braços, não pelo frio, não pelo termómetro, não pela vergonha, não pela desistência das coisas bonitas. cruzou os braços porque sim.


e as pessoas pequenas não deram pela falta do inverno que passava breve.

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