Herberto, para sempre

Faleceu a poesia e eu não acreditei

Pois as memórias renascem quando se lembra o nome. O teu nome a fugir do alfabeto por não se querer escrever. O poema dentro do poema ressuscitado. E o carro alegórico que te queriam fazer e tu a fugir de mãos desatadas.
Herberto que o mundo desconheceu e o Portugal que te mentiu. Caramba para os jornais que queriam o teu rosto e a tua boca vestidos de marioneta. 
Tenho medo que não venham outros atrás de ti. Medo que se escreva mal. Muito medo do que vão dizer.
A poesia morreu no dia em que quiseste desnascer. 
Vou no entanto roubar os textos que guardo no armário. Talvez me vista de escuro com os livros em todos os bolsos. Talvez deixe a barba escorrer para que semelhanças algures.
Não morras. 
Não ouses morrer longe daqueles que te assobiam debaixo da janela.
Não morras.
Que a tua cabeça estremeça como no poema. 
És o mestre de obras que me comoveu. E eu tenho tanta pena dentro de mim por te ver assim, morto.

Ao Herberto Helder, que se cuide para lá daqui.

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