O retorno das palavras



Queria dizer-te que não cresci muito. Mas estaria a mentir. E isso tu não havias de perdoar. Como não perdoarias se tivesse comigo uma espingarda carregada. Não sem que estivesses ao meu lado. Com os cartuchos na mão a fingir que me chamavas de caçador.

Mas ainda sem nada às costas, entrei no teu escritório de quinquilharias e prometi que haverias de renascer nas palavras de um livro. Esse que tanto prometo para dentro.

O que custa mais não foi o regresso e às promessas em vão. Foi ver que o teu telhado caiu e ninguém o segurou. Que a mesa ainda tinha o teu canivete que ousei roubar. Que um isqueiro do Benfica jazia no chão, mesmo sabendo que nunca terias coragem de ter um clube de futebol. Que a porta do teu quarto continuava fechada, com a chave a dizer que podíamos entrar. Que deixaste a tua casa como sempre foste: sozinho.

Mas regressei. Não a tempo de conseguir conversar contigo. Não a tempo de perceber como conseguiste ser tão bonito.

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